domingo, 4 de abril de 2010

O que ressuscitamos na Páscoa


Quatro dias de feriado. Famílias se (re)encontram. Consumimos ovos de chocolate que contenham brindes ou não, calóricos ou light, são tantas opções! Comemos peixe, mas há também aqueles que se enveredam por algum churrasquinho. Outros que saem para a farra, beber algumas cervas e otras cositas más. Tudo isso porque domingo é Páscoa, aquele dia, sabe, que se comemora a ressurreição de Jesus Cristo...

Pensando sobre o porquê um homem (que poderia ser uma mulher também numa visão não-machista) se proporia a morrer, ideologicamente, pela humanidade, reflito em repostas que surgiria na lata por alguns pressupostos e lógicas da Bíblia “O destino de Jesus já estava traçado nas escrituras porque ele é o filho de Deus”.

Só que pensar na proposição do livro sagrado dos cristãos me leva, particularmente, a certos questionamentos: se somos filhos de Deus de fato, por que não fazemos nenhuma ação de extrema doação ao próximo? Por que não conseguimos conter os nossos desejos para que vivamos o hábito de atitudes virtuosas? Se só Jesus consegue, isso nos dá o parecer que só Ele tem um poder divino, comprovando a sua ligação filial com o Pai celestial. Assim, precisamos esperar a ressurreição Dele para que possamos ver a encarnação de um ser de extrema bondade e compaixão.

Refletindo ainda sobre o ato de Jesus, tendo, para isso, um novo viés de concepção, creio que quando amamos muito alguém a ponto de querer o bem dela, podemos fazer autossacrifícios por vontade própria. Por sabermos que não somos perfeitos, perdoamos as imperfeições do próximo. Colocamos no lugar do outro e o entendemos tantos nas características boas e ruins, aceitamos e amamos a essência dele, a essência humana que também reside em nós. Quando universalizamos esse amor a todas as pessoas do mundo, podemos entregar a nossa vida por elas.

Mesmo não agindo como cristãos, a Semana Santa, para muitos fiéis, reacende a fé em dias melhores mesmo que eles nunca cheguem. É a busca da força na imagem de Jesus, porque não se busca a força para lutar em si mesmo, colocando todo o peso do fardo das existências na cruz que Cristo carregou (e ainda carrega). Dessa forma, se torna mais fácil a aceitação “racional” das vidas embebidas pelo vinho, sangue do filho de Deus, da graça (ou de graça?). É a entrega a uma representação de amor perfeito e universal para se livrar da consciência de todo os males concebidos no cotidiano. O egoísmo deixa tudo mais difícil para lutarmos e sermos bons com/para o próximo. Muitas vezes, caridades são feitas não para ajudarmos de fato alguém, mas para pensarmos que somos do Bem.

Não é questão de uma crença religiosa dogmática, porém acredito que todos temos uma centelha de Deus em nós. Quando mais se busca o ensinamento do "Conhece-te a ti mesmo", a gente compreende não só o que somos, mas também o ser humano. Jesus conheceu a si mesmo e buscou viver o próprio caminho de vida. Ciente de todos os problemas que enfrentaria, viveu a verdade contida Nele.

Eu procuro viver meu próprio caminho, crescer e cooperar com aqueles que já não estão presos ao ego: um pequeno grão que na solidão tem prazo curto de existência. Então, quero junto com esses poucos buscar a sabedoria em nossas essências, viver e contemplar a beleza residente no outro que se encontra em mim também. Ousar se for preciso para viver uma vida livre e digna, fazendo a nossa parte, cooperando em uma sociedade melhor a todos. Ajudar as consciências que, mesmo sabendo da árdua caminhada, desejam realmente despertar para o eterno.

Não é fácil melhorar o que somos. Todos os dias são necessários para a realização desse intento. É uma sorte certas pessoas entrarem em nossas vidas e, assim, de forma mais desprendida dos nossos egos, amar o próximo por completo, com defeitos e qualidades inerentes a qualquer ser humano, amá-lo em comunhão com o nosso ser. É uma felicidade podermos comungar um amor divino com o outro. É esse sentimento que devemos ressuscitar não somente em datas especiais.

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