quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O cara

Raul era o tipo de cara que todas as garotas queriam namorar. Algumas queriam apenas ter a chance de beijá-lo, pois achavam que já estariam no lucro. Preciso falar que ele é um tipo de galã? Não era da TV, mas, para o público feminino do colégio, ele dava muito Ibope.

No final de ano, houve uma festa em que toda a galera colegial estava em massa. Meio da noite, o lindo Raul chegou confiante em Luana. Aconteceu um babado forte. O lindo Raul levou um fora bonito. Ele nem conseguiu curtir bem a balada depois dessa.

Perguntaram a Luana o porquê dessa façanha, ela, com um ar meio blasé, falou: “Não gosto do jeito dele, ele é bonitinho e só”. Eita, garota, se você fosse homem seria : “o cara”!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Asas, se preciso espada

O azul do céu no Sol forte do meio-dia
O vermelho do sangue misturado no fogo
Do interior do Sol dado à Terra
É nesse oceano de um azul, quase roxo
Que conheço o que é estar comigo

Um ser angelical perdendo a aura rosa
Que aceitou uma espada já usada
A dualidade se tornou um

Sendo o que sou
Usei da virtude por fé
A passividade para ter paz

Recuso todas as hipóteses que poderiam ser
Elas não foram mais do que hipóteses
Hipo teses de visão reducionista

A impressão que tenho dessas palavras
Que não são minhas
É que elas não serão alcançadas

A guerra que se encontra dentro
De você vai implodir
O que vai fazer?

Distância para se encontrar
Era o seu pedido
E não consegue ser sozinho

Eu já não sinto afetação
Por aquilo que tinha afeto
Você conseguiu de novo

A forca é a força do seu coração
Guardando rancor e mágoa
Como poderia me unir a isso?

A minha alma se mantém purificada
Queimei toda a dor
Não te feri e cortei os nossos laços

Sendo o que sou
Transmuto o que sou
Se a virtude passa a ser vã.

Laços

- Cê viu o festão que o Robertão deu? Rapaz, nem te conto!

Amigo do rei, quem não quer ser? Excluem-se, talvez, os protetores de animais, vegetarianos e afins. Trata-se do rei do gado em questão. Aí, como o povo diz, “o sistema bruto é demais”. Caipira ou não, todo mundo quer dar uma abocanhada nessas carnes: status, socialização na high society, conseguir vários bônus e não ter ônus.

A propaganda da majestade bovina era um sucesso. Sua casa era sempre bem frequentada. Bebidas, festas todos finais de semana, peladas... de futebol. Dentre outras etceteras de segurar peão.

Cansado de tantos companheiros leais, Robertão queria ter pelo menos um que pudesse chamar de amigão também. Deu na telha que queria isso e pronto. Alguém que ele pudesse botar a mão na brasa se fosse preciso, sem precisar sair queimado no final do causo logicamente. Em quantidade não mais, já tinha cabras por demais dando laço nos churrascos.

Normal ele ter esse tipo de vontade, reis também querem ter amigos reais. Só que de acordo as exigências do fazendeiro, ninguém era bom o suficiente. Desconfiança povoava aos montes sua cabeça. Estava com medo de que ele próprio não passasse de um “rei do camarote” de revista Veja.

No boca a boca, propagava-se, de maneira espontânea, o desejo do monarca, tornando-o popular, mesmo ele não conhecendo um décimo da massa que se importava tanto com sua vida. O próprio, desconfiado, questionou:

- Será que presta uma coisa dessas? O burburinho que estão fazendo sobre minha pessoa é de um marketing impressionante!

E dos fundos de uma sala, comparando os índices agropecuários globalizados na internet, de maneira extremamente calculada, pronunciou-se uma voz firme e áspera:

- Ei, caramba! O problema é mais abaixo!

- Por que você diz isso, ô, macumbeira?

- Pense por você mesmo! Você sentiria pena por alguém que se reduz a um metal? Eu acho é pouco!

E a senhora vistosa pôs-se a rir de maneira tão sarcástica que chegava a ter um nível acima do normal sua acidez. Sabia que o chefão confiava somente nos laços familiares, mantidos com amor e certa integridade. O pai repassando os valores recebidos quando foi filho, agora, para seus herdeiros que, mais na frente, administrariam com maestria os bens, a sabedoria familiar. Pelo menos em tese.

A mulher reconhecia certo valor no rei do gado, mesmo assim, os santos insistiam em não se topar muito bem. Sob seu olhar, o casamento dele com Laurenice, encantadoramente próspero, sempre tinha que estar em vigilância. As piriguetes estavam à solta e novela das nove nenhuma iria ser filmada na sua cara. Pela felicidade da sua filha, mantinha o silêncio. Sua filha tinha um caso com o sócio de Robertão.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Contato in vitro

Toque toque
Não dava para ultrapassar a barreira de vidro.

Faltava um dente
Nem tinha a consciência da dificuldade da vida
Criança e com o espírito transparente
Vem, vem!
Vamos brincar! Vamos!
Eba!

Onde está você, pequeno príncipe?
Tô aqui, ó!
Ahá! Não tô mais
Esconde-esconde
Você não pode me ver!

Através do vidro
O menino brincava de ser
Nariz se amassava
Sorrisos nada caretas
Medo ou timidez
Pela estranha bebendo chopp de vinho
Atritavam-se na vidraça.

A risada nada contida
O olhar brilhante
Transpassava qualquer bloqueio
Sem cacos pelo chão.

Mais confiante que um adulto
O simpático projeto-de-gente
Foi embora seguindo em frente.

Quem sabe o nosso contato in vitro seja lembrado
Pelo caminho
Ainda haverá vários poetas de vidro.

Toque toque
Ele passou pela porta de vidro

Tá doido, tá doido!
Escrito por:
Kamilly Cordeiro dos Santos
Marielle Sant'Ana