quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Crônica de um andróide do sistema

O tempo me cobra o dinheiro que não produzi
É hora de trabalhar!
Produzir bens para o bem do meu patrão

Tenho que correr para me libertar
As asas já foram desconectadas para eu ficar no chão
A realidade perdura… e é dura demais para bater com os punhos
Já perdi o ônibus!

O jornal não informa qual é a minha atual situação
Quer me manter feliz com fotos de garotas seminuas
Com horóscopo, futebol, violência brutal da cidade,
Resumo de novelas da vida burguesa que nunca vou ter

Meu professor do ginásio dizia para a gente ler livros
Era para gente ficar inteligente se fizesse isso
Mas como ler se eu nem sei interpretar os códigos?
São páginas demais e eu tenho que trabalhar!

Quem é último perdeu a oportunidade de ri
Por isso invento piadas ao ver as vidas de outros na TV
Tão cheias de verdade como os discursos políticos

Meu pai uma vez me disse:
Quem tem consciência, tem mais responsabilidade
Se eu sou um duro que não pode nem comprar dignidade
Sobrevivo nem sei como
A responsabilidade que tenho é manter a engrenagem do sistema
Como posso ter sabedoria para acabar com algo que mantém
viva a minha miserável vida?
E agora, quem poderá me defender?

O que é ser um ser humano?
Pois não sou um há muito tempo…

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Teste para uma pintora aprendiz

 

Eu lembro quando testava você: "Será que ele pode suportar minha existência em uma coexistência?". Nunca pedi para você me carregar nos ombros e nem quero isso. Só quero que me acompanhe durante o máximo que pudermos. Eu gosto de correr, porque a vida parece tão curta... "Então, curta!", eu digo isso para eu ouvir alguma música por entre as palavras. Aproveitar toda a totalidade do viver neste finito espaço de tempo que não vai durar mais do que um século. Odeio ficar parada no mesmo lugar. Odeio. Mas você, novamente você, soube me esperar com toda a paciência e amor que eu não poderia esperar se não ficasse por algum tempo parada.

Aonde eu quero chegar com isso? Com plena consciência, a testada fui eu. Tive que aceitar minha limitações. Abracei meu Eu, dei um beijo nele. Amei todos as suas dimensões mensuráveis ou não. É preciso parar para que as imagens da contemplação tenham tempo de chegar aos olhos do coração. Foi o momento que passei a desenhar-lhe em tintas frescas, meu amado príncipe.