sábado, 19 de junho de 2010

Inconsciente

Nenhum eletroeletrônico ou móvel para pelo menos descansar o corpo. Um grande espaço em branco. O silêncio por todos os cantos, apesar das dimensões invisíveis do lugar. O aroma inodoro e fresco de um frio glacial. Seria o quase nada se não fosse a presença de Lílian.

Do outro lado, oito camas, pacientes, em um espaço repartido, ruídos irregulares conforme as batidas do coração. Dia e noite, a mesma iluminação, clara e dura no branco gelo. Um espaço comum e universal, sem identidade. Artificial todo o ar, condicionado às temperaturas baixas. Insensibilidade quebrada pela água com sabor de soro que escorria bem suavemente dos olhos de Augustus.

Vinte anos de vivência poderiam ser cortados pelo fenômeno natural em que os seres vivos se apresentam efêmeros. A mulher de sua vida estava por três dias constantes em sono profundo. Quando ela iria despertar daquele estado letárgico? Inconsciente.

Augustus tocava as mãos macias de Lílian. O intuito de passar de uma matéria para outra, como em um circuito elétrico, o carinho intenso que não poderia ser de forma alguma distante. Conversava mentalmente em silêncio. Se juntos alcançaram o paraíso concebido num sistema de lógica incompreensível para os mortais, os pensamentos e sentimentos de amor também teriam que alcançar a amada esposa.

As mãos de Lílian e Augustus se apertavam reciprocamente. A fé conectou-se ao milagre.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Chamas de Natal

Pedido natalino
Desce pela chaminé
Abaixo e pronto

Descuidado presente
Nessas horas, a lareira pode estar
Acesa e fumegante

Simples causa existencial ou não
O que se tem (,) dado em combustão
Carbono e oxigênio

O que o amor vai queimar?
Fica a escolha de dois:
Fogo eterno e eterno fogo

sábado, 5 de junho de 2010

Transparentes entrelinhas

Estar em alguns lugares, mesmo ausente, tem muitas vantagens. Acredito que não ouviria essas confissões na igreja. Dizer o pecado praticado qualifica a cena feita. Mas, uma consciência do tipo autêntica predica morais particulares.

Juan nunca disse à mulher a qual namorava a sete meses que no dia em que ele fosse promovido ao cargo de chefia, o romance acabaria. Madrid não é um lugar para morar com Pilar. Na verdade, ele nunca pensou em casar com ela.

Mas, enquanto, as coisas não aconteciam, a vida ia seguindo sem muitas significativas mudanças. Pilar vai contando para as amigas o quanto é feliz por ter um namorado como Juan, ele, por sua vez, alimenta o sonho de alguém por pura vaidade. É sempre bom ter uma pessoa que faça as vontades alheias de bom grado. Ela é linda, já está ótimo para que possam desfilar juntos nos shoppings e chopps, deixando os amigos com pontadas de inveja.

Três meses depois. As malas, aos poucos, estavam sendo preparadas. Uma semana antes da despedida definitiva. As melhores palavras eram escolhidas para finalizar o happy end como manda o figurino.

O recém-promovido foi à casa da namorada para conversar. Coisas simples. Explicar que tudo tinha sido bom e bonito entre eles, que foi eterno enquanto durou. E o casamento, que eles tanto planejaram, então, não teria mais como se realizar, porque é difícil conciliar carreira e família ao mesmo tempo. Madrid é uma oportunidade única. Ou seja, Juan não falou com todas as palavras, mas no subentendido dizia: “Mulheres sempre estão em oferta”.

Pilar ouvia todo o ensaio de Juan de forma tranquila. Uma cara de complacente, como costuma ser a expressão das mocinhas de novela, algo que beira a uma doçura que de tão doce se torna enjoativo. O rapaz via a reação da moça meio perplexo. Ele esperava pelo menos umas lagriminhas de leve.

No fim, os preâmbulos do beijo de despedida, seguido de uns versos fabricados a partir de um filme ou música, vai saber: “Pilar, aonde quer que eu vá, vou lembrar de tudo o que você foi para mim”. Juan abraçou a mulher com antecipadas saudades, verdadeiras mesmo. Nessa hora, ele percebeu que apesar do premeditado e chegado momento, não esperava que, no final de tudo, iria sentir uma forte ligação com a mais nova ex-namorada.

Depois do abraço, a moça se desvencilhou de Juan de forma natural, já chegando para a cena do último ato. Beijou o rosto dele, sorriu transparentemente alegre, acenou com a mão o “tchau”, voltou para a casa dela.

O rapaz queria voltar para a casa dela também. Era a hora da partida, mas aquele desfecho não foi o imaginado. O beijo compartilhado não aconteceu. Ele nem tinha transferido a sensação de nostalgia para Pilar e, assim, ficava com isso sozinho para si mesmo.

Juan não sabia. Pilar, mesmo com o fim do namoro, se sentia feliz. Entendia a situação, queria muito o bem dele e desejava, no fundo do seu coração, felicidades na nova empreitada daquele bom homem cheio de qualidades. Com ele, adquiriu experiências que a tornaram mais madura. Ela se sentia agradecida. Pilar já estava em outro relacionamento amoroso.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Lua disse eu te amo

Tantas pessoas nesse mundo
Eu fico em encanto profundo
Porque de cara com a Lua
Pés flutuaram na gravidade nua

Palavras guardadas para a noite
Antes, lembro o que me disseste
Agora, está perdido qualquer disfarce
Encontrando, depois, o que me faltasse

Tenho o amanhecer da ausência tua
E andando por qualquer rua
Pensamento arranhado, som repetitivo
Eu quero seu sereno de novo

A Lua mudou a minha vida em outra fase
Ofertou-me fé para esta frase
Ser proferida entre estrelas-mor:
Eu te amo, amor.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Passagem

Amor
Nunca pensei sobre...

E quando penso
Todo o processo
Mostrasse maior
Do que uma casa

Uma pobre
Casa
Pisos
Quebrados
Por poucos
Passos

Por isso
Nossos sonhos são muitos
Vão além do dito suficiente
E estipulado nos contratos

Mesmo assim
Em mim
Vai faltar algo
Ainda devo
Aquilo
Daquilo
Que devo

Só me mostre
Meu bem, que o amor
Faz-me perdoada
Desta dívida

Leve-me leve
Para um passeio

Tudo na vida passa
A vida passa

E neste percurso passageiro
Eu quero ficar com você.

x x x x x x

Depois de ler o poema, vejam este videoclipe da banda The National - Bloodbuzz Ohio.

http://www.youtube.com/watch?v=K779pqvYQds