terça-feira, 23 de abril de 2013

Literatura no Eixão - E eu ganhando livro! Super adoro!


Bom, era um sábado quente em Goiânia. Quente e ensolarado, perfeito para um clube. Mas eu, com este engajamento que tenho para tudo que gosto, carreguei meu namorado para o evento Literatura no Eixo. Por que no Eixo? Leitor, a resposta é simples: isto é um trocadilho para se referir também que a manifestação artística seria levada para os usuários do transporte público de Goiânia, especificamente o Eixo (que é uma linha de ônibus que corta a cidade e é uma das vias mais utilizadas pelos passageiros de Gyn). Embora eu utilize com certa frequência o transporte público (até meu irmão mais novo sabe dirigir e eu não! rs), meu namorado já nem sabia mais o que era andar de ônibus desde seu último ano no Ensino Médio, porém, mesmo assim, aceitamos o desafio, quero dizer, o convite. 

Pois pense: pegar ônibus, em pleno sábado, cá entre nós, ah, é muito chato. Enfrentar empurra-empurra.  Super lotação. Motorista sem sensibilidade, quem dirá educação, para dirigir com cuidado, já que está carregando seres humanos e não a mãe dele. Galera que vende mil e uma coisas no ônibus e passa esfregando e espremido por entre os passageiros. Fora aqueles que vão logo pegar ônibus para pregar a palavra (sou católica, assim, minha fé é muito grande de que lugar de culto deve ser em espaço particular, até porque se fosse alguém de outra religião (ou totalmente) estranha à sua e viesse lhe catequizar em pleno ônibus lotado, em movimento, quente, abafado, seria no mínimo desagradável). Vender indulgências. Vender lote no céu. Vender "salvação". A gente ter que comprar fé para enfrentar tudo isso. Pedir esmola para os remédios (jogo na cara de alguns que o Estado oferece isso de graça nas Secretarias responsáveis, a pessoa falta adoecer de tanta vergonha). Pedir esmola com cara e corpo de quem está forte para trabalhar, se brincar até melhor do que eu. Nossa, quando enfrento tudo isso até penso que não sou gente, e tenho que me "animalizar" para entrar neste espaço, porque a maioria se comporta como cavalo para entrar no ônibus, fora a marcação de território, porque se bobear até sentam literalmente na gente. 

Mas, para contrapor tudo isso, através de uma idealização do jovem e engajado poeta goiano Kaio Bruno Dias, é que começou o Literatura no Eixo: oferecendo Arte para gente que, muitas vezes, nem visualiza a perspectiva disso. Gente esquecida pelos poderes públicos, que mais se preocupam em utilizar o dinheiro público para patrocinar o show do Paul McCartney no sertão de Goiás. E a cultura goiana local e seus espaços públicos onde é que ficam? O espaço tão democrático, point do público jovem e afins, que era o Martim Cererê, por exemplo, está morrendo, se já não está morto, fechado durante 1 ano. E os shows, os espetáculos teatrais, os eventos que promovem múltiplos olhares da cultura (porque Goiás não é terra somente do sertanejo, embora só se venda essa imagem para fora) não têm espaço, não tem local. Mesmo tendo o público. 

Assim, quando fui marcar presença no Literatura no Eixo, eu e meu namorado ganhamos um livro cada um, na faixa, de forma gratuita e sem que alguém pedisse nada em troca. Fora as apresentações, onde até pude improvisar uma leitura teatralizada do poema feito pelo poeta e também integrante do movimento Walacy Neto. Por isso, principalmente quando se pode contribuir com iniciativas tão inovadoras e louváveis, neste caso levar a Arte para todos no Eixão (usuários do transporte público de Goiânia), gosto ainda mais da Literatura. É a emoção que ela pode nos proporcionar tanto quanto poetas e quanto público de todos nós.

Para sentir mais um pouco do movimento, acesse o link abaixo:
Literatura no Eixão - Matéria TBC News, 22/04/2013


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Conversas DaMatta

Aluna passa em 2º lugar em mestrado com projeto sobre Valeska Popozuda
Projeto discute ideia de que funk seria o último grito do feminismo                 -   http://migre.me/eaKoZ

Com essa manchete, eu me fiz o auto-convite de dialogar sobre essa notícia e com o que eu vi ao vivo, a cores e na minha presença ontem, quarta-feira, 17 de abril, Goiânia. Roberto da Matta.


Para quem ainda não sabe, Roberto DaMatta é brasileiro  de Niterói, cidade do Rio de Janeiro, e nasceu em 29 de julho de 1936. Atualmente ocupa a cátedra Reverendo Edmund P. Joyce. C.S.C., de Antropologia da Universidade de Notre Dame e é também professor titular licenciado sem vencimentos do Departamento de Antropologia da Universidade Federal Fluminense. Quanto a sua titulação acadêmica, para sermos breve, ele é mestre e Ph.D pela Universidade de Harvard. Também participa e realiza inúmeras conferências em todos os grandes centros de pesquisa e ensino de Antropologia Social da América, da Europa e da Ásia. Se tratando de lugares em que foi conferencista, DaMatta já passou em: Universidade de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Harvard, Yale, Princeton, Johns Hopkins, Florida-Gainesville, Pittsburgh, New York, Columbia, Washington, Chicago, Illinois, Michigan-Ann Arbor, Cambridge, Londres, Oxford, Lima, Buenos Aires, Cairo, Berlim, Uttrech, Stockolmo, Tóquio, Seul, Oslo, ...,  e, para a nossa alegria, também em Goiânia, no evento Café de Ideias.

Para o padrão acadêmico que temos observado atualmente no Brasil, onde muitos academicistas se propõe a conversar somente com ele mesmo e entre seus iguais acadêmicos, esse breve currículo de DaMatta, intelectual de reconhecimento internacional e um dos poucos grandes nomes da intelectualidade brasileira, já estaria de bom tamanho. Porém, este doutor vai além dessa limitação acadêmica: ele tem uma formação verdadeiramente intelectual.

O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que ele pensa de forma sincera e autêntica, com um olhar sensível, crítico, reflexivo e, sobretudo, atento aos fenômenos sociais e às transformações do mundo, o que envolve cultura, política, cotidiano, comportamento de nós, seres humanos inseridos neste ‘entre-lugar’ de contextos, historicidade material e imaterial. Assim, DaMatta tem muito mais que o suficiente para o exercício intelectual: a sensibilidade para compreender a verdade universal do que é o ser humano, a essência que nos constitui. Assim, além de várias obras em livros, fundamentais para se pensar a realidade social e sociológica do Brasil, como Carnavais, Malandros e Heróis: Para uma Sociologia do Dilema Brasileiro; O que faz o brasil, Brasil?; Casa e a Rua: Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil, dentre outros, Roberto DaMatta tem centenas de artigos, publicados semanalmente nos jornais O Globo e Estado de S. Paulo.


Alguns críticos e jornalistas alegaram que o bom-humor do professor DaMatta foi o ponto alto da palestra. Mas também como não rir do lugar caótico que se encontra a ética, a moral, as práticas, as estruturas físicas e intelectuais do Brasil? Ao ouvir as perspicazes conversas de DaMatta, nós – o público –  sentíamos em verdadeiro processo catártico. É tanta tragédia neste Brasilis que DaMatta agia como o nosso psicólogo social e a gente ria das incoerências íntimas da sociedade e de nós mesmos. Nossa confissão ativa por meio do riso mostrava o que somos e o que não queremos ser: trágicos. O riso, pelo jeito, é outro jeitinho do povo brasileiro ultrapassar e conviver com a visão da adversidade e poder coexistir nela.

Em uma parte da palestra, o intelectual alfinetou a academia pela questão dela querer ser tão acadêmica que deixa de se propor a reflexão social da própria sociedade. E ele falou assim: “Um país que não tem política não tem sangue. Uma academia que fica fechada só nela mesma também não tem sangue. Eu não aceito ser um intelectual que só se direcione a um público acadêmico. Nestes moldes, eu não aceito ser um intelectual da academia”. Então, para contrapor a ignorância do povo que concorda em desvalorizar a cultura dos morros cariocas, do futebol, do Sertão, do funk, do samba, do negro, do branco, do índio, da multietnia, por exemplo, é que se faz necessário entender de forma epistemológica o que é mesmo o Brasil, o que nos constitui como brasileiros, como nação.


Por isso, o Brasil tem cara de Valeska Popozuda também, ou será que a gente vai ainda negar esse outro quando vemos as mulheres (irmã, tia, amiga, colega de trabalho, colegial, universitária, ou qualquer outra forma de contato com este gênero feminino) que adotam este estilo de conduta, roupa, cultura e lógico, música, do que hoje é comum se chamar “piriguete”? Como o hit que fez Valeska se popularizar na mídia brasileira, o refrão que ela canta ainda hoje é o grito consciente ou inconsciente de liberdade para muitas mulheres quando vão sair para qualquer balada, seja rock/jazz/blues: “De, de sainha. / Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar. / Daquele jeito!”. Então, por que temos que negar o que faz parte da cultura brasileira?

É a partir de um intelectual desta estirpe que nós, universitários, nos sentimos animados e motivados a continuar estudando, fazer pós-graduação e tudo o mais. Não pela razão de ostentação de títulos, o que torna tal prática vazia e rasa, mas para buscar, produzir, pesquisar o mais profundo conhecimento. E, ao buscar também a minha voz, quero de fato estudar e escrever tão apaixonadamente como o DaMatta relatou que é sua experiência com a leitura e a escrita. Isso para mim seria o princípio do suficiente na minha vida...

Escrever para descrever com reflexão o que somos. Ler para apreciar o que somos. DaMatta é contra e eu também NÃO ACEITO aquilo que vive sem ter sangue, porque um conhecimento assim e que continua a existir só pode ser configurado em: conhecimento de zumbis. E eu NÃO ACEITO isso. Aquilo que se proponha a me tornar antiquada e quadrada, lugar de um exercício acadêmico autista: estou fora. Mudança cultural é o meu foco. E não me importo em continuar estudando, escrevendo, noticiando, engajando. Mesmo que os resultados demorem a aparecer, o pouco que eu conseguir vai ser lucro! Tenho consciência disso, em um Brasil onde o povo mal sabe interpretar o que estou escrevendo agora.


Eu também NÃO ACEITO toda essa cultura da corrupção no Brasil. NÃO ACEITO a desculpa de que somos assim por causa dos portugueses, por causa da escravatura, por causa dos índios e etc, que acaba nos acomodando neste estado atual de declínio ético, desigualdade, precariedade na infraestrutura e tantas outras mazelas. Como Roberto DaMatta afirmou quando questionei ele, o Brasil tem que DIZER NÃO ao que nos faz desiguais, antiéticos, antidemocráticos e retrógrados. E o que é esse DIZER NÃO? É um de nossos jeitos para a gente – nós, brasileiros – SUPERAR o que não queremos que nos represente. DIZER NÃO é posicionamento político. O Brasil precisa DIZER NÃO!


Ps.: Para finalizar este texto, deixo para você de presente a música na voz do nosso brasileiríssimo Ney Matogrosso, e escrita pelo multiartista Arnaldo Antunes: “Somos o que somos. Somos o que somos. INCLASSIFICÁVEIS.”

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Meu corpo, sentido


Falar do que meu ser vê quanto se está dentro de uma matéria, meu corpo. Dentre os 5 sentidos sensoriais, sou todos os olhos. E asseguro o foco desde os primórdios para este sentido, a visão. Entre meus 2 ou 3 anos, de acordo relato testemunhal do meu pai, eu arrastava uma cadeira da sala de jantar, levava para a sala de estar, subia nela para acessar os botões acoplados na própria TV e escolhia algum canal de desenho animado.
Não creio que hoje em dia somos instruídos somente a ver, era da imagem. A questão é que as tecnologias evoluíram muito e de forma mais rápida que a sociedade mundial, em geral, poderia prever. E o aparato imagético foi um dos que mais sofreu impacto. Por exemplo, antes se tirava fotos com câmeras analógicas, com processos de revelação demorados e complicados, hoje tudo ficou mais prático com a digitalização das imagens. Não teria como meu corpo, que desde cedo ficou muito suscetível a adaptar às novas tecnologias, ficar de fora ao apelo visual.
Desde pequena me interesso em ver a multiplicidade de ideias das pessoas, suas crenças, ideologias, ciências e artes, para enxergar quão fundo são suas razões e emoções expressas no mundo e os possíveis impactos de suas ações e pensamentos perante a sociedade. Diante delas eu agi como mera expectadora adolescente, que muitas vezes se comovia, não com os fatos simplesmente, mas com as histórias pessoais de cada um, e que queria contribuir, de alguma forma, através da informação que porventura eu tivesse acesso e divulgar para todos. Para isso, tive que aumentar o grau de visão, de percepção de mundo. Decidi fazer o curso de Comunicação Social, Jornalismo.
Quando entrei na faculdade, minha visão se alterou. E por causa de professores que fizeram e ainda fazem a diferença no meu curso, comecei a olhar a imparcialidade com outros olhos. A imparcialidade, pelo jeito, nunca existiu. Mas quem quiser ser um mero robô programado a analisar friamente os dados e os processar em texto, que seja. Mas eu nego essa postura que alienaria minha visão do próprio corpo que a produz. Não consigo e não quero fazer do meu olhar subjetivo em pura objetividade jornalística.
Por eu propor essa tarefa a mim, olhar as pessoas sem máscaras, descobrindo suas verdades e expor tudo isso ao mundo, é que eu acabo tendo uma visão que anda entre extremos e tangentes. Vejo o melhor e o pior que cada ser humano pode ser ou chegar a ser. Sem mais ingenuidade no meu olhar, resta sempre a esperança. E para que eu sobreviva a esse campo profissional, que sou consciente dos prós e dos contras, aprendo a me adaptar. 
Meu corpo realmente é voltado para a visão. Por isso, saboreio o conhecimento. Para respirar o aroma de novos sabores, gosto de me alimentar com tudo o que possa ser exótico, de qualidade. Escutar aquilo que vista minha personalidade. Em todos e por todos os sentidos, sentir amor e paz. Saborear artes reveladoras do ser humano e também do meu ser. Sentir o convívio de pessoas sábias. Pessoas bobas que chegam a ser inteligentes e surpreendentes de tão sinceras suas palavras. Mas odeio as medianas, devido à previsibilidade de dar tédio. E gosto de falar com algum propósito e expressar visões, que colhi com o tempo, e que por causa do tempo se tornaram minha visão também. Pelo meu Eu é assim que é meu corpo sentido.

"Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você."
(Legião Urbana - Quase sem querer)

http://www.youtube.com/watch?v=LFsvaEB6hi4