Falar do que meu ser vê quanto se está dentro
de uma matéria, meu corpo. Dentre os 5 sentidos sensoriais, sou todos os olhos.
E asseguro o foco desde os primórdios para este sentido, a visão. Entre meus 2 ou
3 anos, de acordo relato testemunhal do meu pai, eu arrastava uma cadeira da
sala de jantar, levava para a sala de estar, subia nela para acessar os botões
acoplados na própria TV e escolhia algum canal de desenho animado.
Não creio que hoje em dia somos instruídos
somente a ver, era da imagem. A questão é que as tecnologias
evoluíram muito e de forma mais rápida que a sociedade mundial, em geral,
poderia prever. E o aparato imagético foi um dos que mais sofreu impacto. Por
exemplo, antes se tirava fotos com câmeras analógicas, com processos de
revelação demorados e complicados, hoje tudo ficou mais prático com a
digitalização das imagens. Não teria como meu corpo, que desde cedo ficou muito
suscetível a adaptar às novas tecnologias, ficar de fora ao apelo visual.
Desde pequena me interesso em ver a
multiplicidade de ideias das pessoas, suas crenças, ideologias, ciências e
artes, para enxergar quão fundo são suas razões e emoções expressas no mundo e
os possíveis impactos de suas ações e pensamentos perante a sociedade. Diante
delas eu agi como mera expectadora adolescente, que muitas vezes se comovia,
não com os fatos simplesmente, mas com as histórias pessoais de cada um, e que queria
contribuir, de alguma forma, através da informação que porventura eu tivesse
acesso e divulgar para todos. Para isso, tive que aumentar o grau de visão, de
percepção de mundo. Decidi fazer o curso de Comunicação Social, Jornalismo.
Quando entrei na faculdade, minha visão se
alterou. E por causa de professores que fizeram e ainda fazem a diferença no
meu curso, comecei a olhar a imparcialidade com outros olhos. A imparcialidade,
pelo jeito, nunca existiu. Mas quem quiser ser um mero robô programado a
analisar friamente os dados e os processar em texto, que seja. Mas eu nego essa
postura que alienaria minha visão do próprio corpo que a produz. Não consigo e
não quero fazer do meu olhar subjetivo em pura objetividade jornalística.
Por eu propor essa tarefa a mim, olhar as
pessoas sem máscaras, descobrindo suas verdades e expor tudo isso ao mundo, é
que eu acabo tendo uma visão que anda entre extremos e tangentes. Vejo o melhor
e o pior que cada ser humano pode ser ou chegar a ser. Sem mais ingenuidade no
meu olhar, resta sempre a esperança. E para que eu sobreviva a esse campo
profissional, que sou consciente dos prós e dos contras, aprendo a me adaptar.
Meu corpo realmente é voltado para a visão.
Por isso, saboreio o conhecimento. Para respirar o aroma de novos sabores, gosto
de me alimentar com tudo o que possa ser exótico, de qualidade. Escutar aquilo que
vista minha personalidade. Em todos e por todos os sentidos, sentir amor e paz.
Saborear artes reveladoras do ser humano e também do meu ser. Sentir o convívio
de pessoas sábias. Pessoas bobas que chegam a ser inteligentes e surpreendentes
de tão sinceras suas palavras. Mas odeio as medianas, devido à previsibilidade
de dar tédio. E gosto de falar com algum propósito e expressar visões, que colhi
com o tempo, e que por causa do tempo se tornaram minha visão também. Pelo meu
Eu é assim que é meu corpo sentido.
"Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você."
(Legião Urbana - Quase sem querer)
http://www.youtube.com/watch?v=LFsvaEB6hi4
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