sábado, 17 de junho de 2017

Minha Primeira Vez

Bom para ler ouvindo: Miyavi - Girls, be ambitious
https://www.youtube.com/watch?v=Dc7TN2Oe4lk

Uma prima tão noob quanto eu. Pedro Afonso, Tocantins, julho de 2007. Mas na teoria ela era sensacional, tinha até lido “O Doce Veneno do Escorpião”, da Surfistinha.

- Mari, na hora H, se você fizer o que eu te falei, você vai ser foda para caralho.
- Sério, A*?
- Veeeey, é sabedoria atestada por uma puta!

Outra lembrança com ela foi assistir TV na casa dela, em Palmas. MTV pela primeira vez, já que não tinha televisão a cabo na minha. Em um videoclipe chamado “Helena”, conhecia também pela primeira vez a beleza sombria e de uma loucura iluminada que me encantava, mesmo, mais tarde, descobrindo que o vocalista era considerado uns dos 20 roqueiros mais feios de “todos os tempos”. Foda-se, a revistinha adolescente não me pesquisou.

Minha prima também estava se fodendo para a minha paixão que se formava entre sons, imagens e conexão artística-espiritual. Ficava mudando a porra do canal para a novela “Malhação”. Mas quando uma loira tão parecida com outras loiras atuais do pop de hoje apareceu na MTV com “Beat of my heart”, já não bastasse a tela de vidro, essa jovem ficava vidrada. Cantava junto e eu achava tão idiota ter que assistir aquela encenação de inocência com tantas doses e poses de sexualidade implícita.

Muito tempo se passou para que pudéssemos mudar aquele estágio zerado de conhecimento empírico. Livrei o pedaço de carne lacrado com meu melhor amigo, já que o rapaz mais velho que eu amava platonicamente, sem desejo, mas com admiração, não curtia mulher virgem. Tudo para anos e anos mais tarde eu desprezar o amor e desejo dele por mim, com beijo nunca dado y otras cositas más. rs

Minha prima, indo para um retiro espiritual, em sua busca incessante por Deus e evangelização, de carona no carro de um casal e seus dois filhos pequenos, foi a única vencedora de um prêmio implacável. Morreu na mesma estrada que causou o acidente do sertanejo Pedro, filho do Leonardo. E feito o videoclipe que ela detestava e eu ainda gosto, o verso “We are the very hurt you sold” ilustrava muito bem seu velório emocionante e lotado de gente, segundo relatos da minha mãe, já que fiquei em Goiânia.

O pastor lembrou o quanto ela tinha urgência nas coisas, na vida, queria tudo “para ontem”. Seus três fãs evangélicos, intocados por caprichos dela, não seguraram a desolação. Nem meu tio, seu pai, porque ela se despedia da vida nessa celebração fúnebre sem sequer saber o sabor de um beijo na boca.

Espero que minha saudade por você, A*, não seja interpretada como amor homoafetivo, apesar das lembranças inocentes de banhos no chuveiro que ainda guardo. Uma outra primeira vez minha de ambos corpos nus num mesmo compartimento. Eu sei que não era a sua, porque você fazia isso com naturalidade com outra prima, sua irmã mais nova. Era estranho para mim, mas como minha mãe falou que isso entre primas era habitual no Norte, tá, né, fui ver de qual que é.

Nossa, tudo faz sentido agora! Por isso, sua irmã se ferrava com meu tio que não aceitava a expressão da sexualidade dela ao dar uns beijinhos por aí em alguns rapazes. E só você era a santa, casta, pura, e, por isso, adorada por ele, já que não fazia essa “pouca vergonha”. Por que não me falou antes com todas as palavras a poesia inscrita em seu olhar que nunca consegui ler? Sem paixão e nenhum desejo, por amor, eu lhe beijaria para lhe acordar dessa sua ilusão, Bela Adormecida.

“Come on angel, don't you cry!” Outro verso sussurrado na voz do Way que posso cantar para você, já que não tenho habilidade para fazer psicografia.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Autoficção Crônica e Poética do Abandono


Bom para ler ouvindo: Billy Idol - Rebel Yell


É tudo pessoal, sim. Rabiscando nessas paredes imaginárias e reais significados elétricos, diários etéreos que entenderei o sentido daqui alguns poucos meses. “Talvez tenha chegado a hora”, um velho amigo me disse. Bato as mãos, inquietamente, sobre as pernas. Está tão cedo, mas o Sol ainda é plena escuridão.

Olho meu mapa numerológico que eu mesma aprendi a fazer. Segredos universais divulgados, uma pontada no lado direito do peito. Venho quebrar o silêncio com mais silêncios. Por isso, escrevo e escrevo. “Este é seu desafio por toda a vida”, disse 3 vezes a terapeuta holística para que eu não caísse em negação e brigou comigo por não presenteá-la com um livro. Rude, não compreendia o valor das palavras. E toda a gratuidade também tem um preço.

Hoje apaguei vários substantivos próprios de uma mesma raiz de palavras porque sem verbo não há oração. Escrevi poemas e os apaguei para que a poesia vivesse na memória. Sou sua saudade, ausência, distância porque apaguei o caminho que levava seu espírito orgulhoso à minha casa. Sou sua admiração porque ao apagar a luz você teve que contemplar sua própria sombra cinza projetada no espelho. Sou seu maior amor depois de apagado seu Eu em mim.

“Nada pessoal, abandonei sua mãe porque sabia que ela ia ficar bem.” Por escolha própria, o destino se revolta para a sorte lançada antes do meu nascimento. Às vezes, nascemos com tantas partes sacrificadas não por nossa culpa. Com veias entupidas de um sexagenário passado saturado, ele passa os dias num hospital à espera de uma cirurgia que possa salvá-lo.

Passou por várias mulheres como se elas fossem seus objetos e, abjetamente, as descartava depois de usadas. Mesmo que use as mesmas palavras vazias de amor para todas, nenhuma visita online. O quarto vazio, luta cheia de dor pela sobrevivência que não é vida. E todas as partes sacrificadas em mim foram despertadas ainda na mais pura infância para a expansão espiritual que carrego nos dedos. Está tão cedo para o Sol ser plena iluminação.

"Você tem que ser rápida." Chegou a hora inevitável. De violeta, o céu se embriaga para brindar o renascimento. “Se não há culpa, perdoe-se.” Pois é, o preço a pagar. A salvação de Deus manifesta. A filha abandonou o pai aos seus piores demônios interiores.