sexta-feira, 9 de junho de 2017

Autoficção Crônica e Poética do Abandono


Bom para ler ouvindo: Billy Idol - Rebel Yell


É tudo pessoal, sim. Rabiscando nessas paredes imaginárias e reais significados elétricos, diários etéreos que entenderei o sentido daqui alguns poucos meses. “Talvez tenha chegado a hora”, um velho amigo me disse. Bato as mãos, inquietamente, sobre as pernas. Está tão cedo, mas o Sol ainda é plena escuridão.

Olho meu mapa numerológico que eu mesma aprendi a fazer. Segredos universais divulgados, uma pontada no lado direito do peito. Venho quebrar o silêncio com mais silêncios. Por isso, escrevo e escrevo. “Este é seu desafio por toda a vida”, disse 3 vezes a terapeuta holística para que eu não caísse em negação e brigou comigo por não presenteá-la com um livro. Rude, não compreendia o valor das palavras. E toda a gratuidade também tem um preço.

Hoje apaguei vários substantivos próprios de uma mesma raiz de palavras porque sem verbo não há oração. Escrevi poemas e os apaguei para que a poesia vivesse na memória. Sou sua saudade, ausência, distância porque apaguei o caminho que levava seu espírito orgulhoso à minha casa. Sou sua admiração porque ao apagar a luz você teve que contemplar sua própria sombra cinza projetada no espelho. Sou seu maior amor depois de apagado seu Eu em mim.

“Nada pessoal, abandonei sua mãe porque sabia que ela ia ficar bem.” Por escolha própria, o destino se revolta para a sorte lançada antes do meu nascimento. Às vezes, nascemos com tantas partes sacrificadas não por nossa culpa. Com veias entupidas de um sexagenário passado saturado, ele passa os dias num hospital à espera de uma cirurgia que possa salvá-lo.

Passou por várias mulheres como se elas fossem seus objetos e, abjetamente, as descartava depois de usadas. Mesmo que use as mesmas palavras vazias de amor para todas, nenhuma visita online. O quarto vazio, luta cheia de dor pela sobrevivência que não é vida. E todas as partes sacrificadas em mim foram despertadas ainda na mais pura infância para a expansão espiritual que carrego nos dedos. Está tão cedo para o Sol ser plena iluminação.

"Você tem que ser rápida." Chegou a hora inevitável. De violeta, o céu se embriaga para brindar o renascimento. “Se não há culpa, perdoe-se.” Pois é, o preço a pagar. A salvação de Deus manifesta. A filha abandonou o pai aos seus piores demônios interiores.

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