sexta-feira, 18 de março de 2016

Poema contemporâneo pelos dedos de David Moura




Para compreendermos o que caracteriza o poema contemporâneo, o poeta de Recife David Moura nada contra a corrente. Ele declara, para começo de conversa, que seu poema não tem temática contemporânea, pois considera “a contemporaneidade demasiado volátil”. Quanto à escrita em versos dos seus escritos, justifica esse recurso “justamente pela plástica da linguagem, pelo poder da síntese das expressões”.

O técnico saneador de vias públicas acredita também que a linguagem usada em seus escritos dialoga com o leitor contemporâneo: “por eu estar vivo, não? Mas não é o meu objetivo. Eu não escrevo para agradar a ninguém. Se eu tiver dois leitores fiéis, já me sinto feliz”. E finaliza: “Eu busco sempre dar meu sangue, minha alma, nas coisas que faço. Então, se não sentem emoção, é mais complicado, porque o problema já não é mais comigo... Eu escolho palavra por palavra, trabalho expressão por expressão por meses e meses. Creio que cada palavra tem seu peso, sua sonoridade, seu sentido. E meu instrumento de trabalho são as palavras”.

terça-feira, 15 de março de 2016

Poema contemporâneo pelos dedos de Radyr Gonçalves*



Tudo no universo da poesia é tão relativo... Mas vejo meus escritos como algo bem contemporâneo, embora, haja quem diga que não. Busco abordar o cotidiano que nos cerca de uma forma prática, leve, buscando ser conciso, embora na maioria das vezes, eu não consiga expressar isso em dois, três versos... (Acredito que o sujeito tem que ser um gênio para expor uma ideia em três frases e fazer disso poema).
 
Meus poemas são escritos em versos – porque busca ser poesia, o que, às vezes, é difícil. Se escrito de outra forma, meus escritos perderiam o sentido, por não ser prosa poética e ter constantes quebras... 

Creio que na maioria das vezes me faço compreender, mas dentro deste campo tudo é relativo... Já me disseram ironicamente: “Por que você não escreve poesia?”. 

Poesia é algo relativo. A questão da emoção é relativa. Tem gente que acha ótimo e sente um poema, tem gente que não. Eu mesmo, a maioria dos poemas que gosto, são de poetas não famosos... Tem muitos poetas famosos bons, mas tem muitos ruins, muito mesmo. No entanto, para milhares esses poetas que eu acho ruins, até péssimos, passam a emoção que eu não consigo sentir.
É relativo. 

O ser contemporâneo – também é relativo, porque a poesia é atemporal. A poesia ricocheteia entre o passado, o presente e o futuro.

Escurece o claro e acende o escuro. É absurda. E o que é absurdo não tem explicação lógica. O que seria ser contemporâneo é que é a grande pergunta...


*Radyr é poeta de Natal, locutor e trabalha como freelancer na produção de comerciais radiofônicos.

Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/radyrgoncalves10
Site: http://www.revistadeouro.com.br/

segunda-feira, 14 de março de 2016

O segredo do texto em formato de poema




Você poderia...
estar narrando
estar descrevendo
estar filosofando
estar argumentando
estar ironizando
estar calculando
Você poderia...
Ser o que não é?
Ser o quê? Não é?
Você poderia...
Estar em outro lugar?

quinta-feira, 10 de março de 2016

A solidão alheia pede respeito





Sabe aquele trecho da música “Quase sem querer” do Legião Urbana: “às vezes o que eu vejo quase ninguém vê”? Bom, é bem isso que a gente enxerga ao se deparar com a poesia do mais goiano que muito goiano, Kaio Bruno Dias, no seu mais recente livro lançado “Respeite a solidão alheia”. Ele tem a capacidade de nos fazer perceber coisas que a gente, insensivelmente, não nota em nossas vidas cotidianas.  

Com simplicidade e uma linguagem contemporânea despretensiosa, que representa o nosso jeito coloquial de expressar nossas ideias, a obra nos diz a partir de uma perspectiva intimista, introspectiva e também extrospectiva sobre temas que estão divididos em nove partes relacionadas à solidão, amor, frustrações, perda de um ônibus, e tantos outros. Coisas que uma maioria já deve ter passado, passa ou passará algum dia.  

Quem nunca deixou a TV ligada para abafar o som da própria solidão? Ou ficou no Facebook, Whatsapp e tantos outros aplicativos que visam a interligação entre pessoas, mas se sentia desconectado de si mesmo, solitário no meio da multidão? Um dos poemas que se pode destacar, duramente, esta nossa realidade é esse:

“sempre que ficava só
deixava uma música tocando
para não ter a sensação
de estar sozinho.”

O livro “Respeite a solidão alheia” nos diz algo que vai além da própria solidão tão característica dos escritores ao elaborarem expressivamente seus textos. O poeta, fazendo-nos perceber nossa própria solidão enquanto leitores e nossas identificações com os escritos de algo alheio a nós, transforma sua visão literária singular em algo coletivo, compartilhado a todos os que o lerem.

Assim, por meio da Literatura, Kaio Bruno Dias nos transporta e nos sensibiliza pela busca do nosso próprio Eu. Uma busca feita por lobos e lobas solitários em que só quem passa sabe e só quem vive sente. Neste mundo contemporâneo enlouquecido, onde “nada é feito para durar” como já anunciou o sociólogo Bauman, essa tal busca por quem somos é uma atitude que pode ser encarada como corajosa diante do espelho feito pela nossa consciência. Uma procura, portanto, que deve ser respeitada por configurar-se na mais bela e pura solitude.



Kaio Bruno Dias

Sobre a poesia não poesia (ou o fim da arte)



Não existe Brasil para a Arte. Existe um Brasil para o entretenimento imediatista, seja qual gênero artístico for, até na Literatura com os fast-foods literários. Enquanto a nossa contemporaneidade aceitar qualquer coisa, até um lixo num museu, como arte, pouco irar-se avançar em todas as esferas da arte. Anti-arte não é arte. Mas enquanto esse discurso pós-moderno insistir na anti-arte, a História da Arte vislumbrará o fim da arte.

Sobre o establishment da arte pós-moderna, o jornalista Paul Joseph Watson mostra o que ele realmente é: "uma grande panelinha de babacas pretensiosos que tentam parecer sofisticados atribuindo sentido a algo que não possui sentido algum".

Como disse Toquinho ontem, na Folha de S. Paulo, relembrando uma citação de Drummond: "como ficou chato ser moderno, agora serei eterno".


Referência:


domingo, 6 de março de 2016

Amor platônico



Não importo quem você seja, se é rico, pobre, mulher, homem, hétero, LGBTT, velho, jovem, destro, canhoto, intelectual, iletrado, religioso, ateu, gordo, magro, alto, baixo, bonito, feio, famoso, anônimo, negro, branco, amarelo, vermelho, azul, verde, lilás, ou tudo junto e misturado. O que me importa é apreciar a Filo entre nós. Apreciar sua Sofia individual. E você apreciar a Sofia que há em mim. Agora, abra a porta. Olhe. Cheire. Deguste. Ouça. Sinta. Um universo desconhecido habita em cada ser nestes vastos e infinitos planos.