quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Laços

- Cê viu o festão que o Robertão deu? Rapaz, nem te conto!

Amigo do rei, quem não quer ser? Excluem-se, talvez, os protetores de animais, vegetarianos e afins. Trata-se do rei do gado em questão. Aí, como o povo diz, “o sistema bruto é demais”. Caipira ou não, todo mundo quer dar uma abocanhada nessas carnes: status, socialização na high society, conseguir vários bônus e não ter ônus.

A propaganda da majestade bovina era um sucesso. Sua casa era sempre bem frequentada. Bebidas, festas todos finais de semana, peladas... de futebol. Dentre outras etceteras de segurar peão.

Cansado de tantos companheiros leais, Robertão queria ter pelo menos um que pudesse chamar de amigão também. Deu na telha que queria isso e pronto. Alguém que ele pudesse botar a mão na brasa se fosse preciso, sem precisar sair queimado no final do causo logicamente. Em quantidade não mais, já tinha cabras por demais dando laço nos churrascos.

Normal ele ter esse tipo de vontade, reis também querem ter amigos reais. Só que de acordo as exigências do fazendeiro, ninguém era bom o suficiente. Desconfiança povoava aos montes sua cabeça. Estava com medo de que ele próprio não passasse de um “rei do camarote” de revista Veja.

No boca a boca, propagava-se, de maneira espontânea, o desejo do monarca, tornando-o popular, mesmo ele não conhecendo um décimo da massa que se importava tanto com sua vida. O próprio, desconfiado, questionou:

- Será que presta uma coisa dessas? O burburinho que estão fazendo sobre minha pessoa é de um marketing impressionante!

E dos fundos de uma sala, comparando os índices agropecuários globalizados na internet, de maneira extremamente calculada, pronunciou-se uma voz firme e áspera:

- Ei, caramba! O problema é mais abaixo!

- Por que você diz isso, ô, macumbeira?

- Pense por você mesmo! Você sentiria pena por alguém que se reduz a um metal? Eu acho é pouco!

E a senhora vistosa pôs-se a rir de maneira tão sarcástica que chegava a ter um nível acima do normal sua acidez. Sabia que o chefão confiava somente nos laços familiares, mantidos com amor e certa integridade. O pai repassando os valores recebidos quando foi filho, agora, para seus herdeiros que, mais na frente, administrariam com maestria os bens, a sabedoria familiar. Pelo menos em tese.

A mulher reconhecia certo valor no rei do gado, mesmo assim, os santos insistiam em não se topar muito bem. Sob seu olhar, o casamento dele com Laurenice, encantadoramente próspero, sempre tinha que estar em vigilância. As piriguetes estavam à solta e novela das nove nenhuma iria ser filmada na sua cara. Pela felicidade da sua filha, mantinha o silêncio. Sua filha tinha um caso com o sócio de Robertão.

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