quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Diariamente brasileiro

Acordei. Desci. Comi. Saí. Essa é a rotina de um trabalhador da grande metrópole. Trabalhar pra gastar a vida. Isso não quer dizer que ela é ruim. As pequenas coisas neste cotidiano a transforma em felicidades isoladas.

Acordei. O relógio não despertou, estou atrasado pra pegar o ônibus e vou ouvir poucas e boas do chefe. O chefe parece um leitão a pururuca: cabeça chata como todo bom cearense; barriga avantajada como todo bom português; e uma bunda empinada como todo mau gaúcho. Ele é uma coisa estranha mesmo. E daí? A figura disforme dele me lembra o Tiririca. Fico rindo desta coisa na minha mente maquiavélica. (risos)

Desci. Moro num barraco no alto do morro do Macaco da Bunda de Fora. Moro exatamente no centro do morro, pra ser mais exato, no centro que liga as duas bundas (para um bom entendedor, meia palavra basta). Desço todos os dias em meio a tiros e papelotes de nhacoma, é uma maravilha. Vocês pensam que estou sendo irônico? Mas nada melhor do que brincar com os problemas da vida. Fica mais interessante e, no meu caso, bem irônica mesmo. A vida como um videogame: winner ou game over? Não levando um head shot tá bom demais.

Comi. É, isso acontece de vez em quando, nem sempre tenho o que comer. Às vezes, farinha com água, às vezes, filé mignon ao molho barbecue. Depende muito da minha imaginação no dia.

Saí. Sim, saí mesmo e devo voltar só umas 11 horas da noite. Em meio a mais tiros e papelotes, só que agora com um bônus: garotas de programa também! Eita, horário nobre!

Tem gente que sente pena, tem gente que ri. Mas o problema é que tem gente que finge que não vê isso por de trás de uma mesa, dentro de um terno. Pra me conhecer, basta ir à região mais pobre da sua cidade. Sou apenas mais um trabalhador da grande metrópole, miserável, mas também a pessoa mais feliz do mundo. Por quê? Porque sou brasileiro e não desisto nunca. Diz a propaganda do governo nacional.

Eu sou feliz porque posso ver sonhos maiores do que minha própria condição.
Autores:
Guilherme Gondim
Marielle Sant'Ana

Um comentário:

  1. E vai ser Natal de novo! Que pelo menos tenhamos consciência para podermos olhar um ser humano sem distinções de classe social. E outro(s) tipo(s) de preconceito(s) que seja.

    Feliz Natal para todos que leêm ou não esse blog! =)

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