segunda-feira, 24 de maio de 2010

O fogo que não é de videogame

Via aquelas imagens. O espectro era a fusão de uma irrealidade real. E aqui estamos nós, novamente, patrocinando mais um espetáculo para os telespectadores massivos. Depois desta apresentação, é dispensável que você, que está me assistindo nesta mensagem, me considere um fantasma.

E é, por isso, que presencio a consciência daquela simplória garota. Tudo começou em um sonho. Ela visualizava os próprios devaneios e projetava na vida real. Adivinha o que ela assistia? Um monte de clássicos… da Disney. Então, a pequena donzela ficava inventando de ser boazinha com todo mundo.

Ir na igreja aos domingos, ajudar os velhinhos a atravessar a rua, fazer pequenas caridades. Ficava em falta era de resgatar gato sem noção de árvore. Só que, além dela ter alergia a Garfields, escalar vegetais de grande porte soa meio fora do padrão como esporte para garotas. Como o pessoal diz mesmo? Ah, é, trepar em árvore. É assim que é a voz do povo. Voz de? Sem comentários com essa comparação infame.

Pois bem. Os seres vivos passam por um processo de maturação. Ela passou a ver também conteúdos do tipo Malhação, coisa que nunca morre pelo jeito. E um dia o episódio foi muito bacana, quero dizer, estranho. Esquisito para o padrão comum, porque aquilo estava filosófico demais para um público destinado para jovens (ou não) que no fundo dos seus corações, realmente, buscam uma distração da vida real regada a hormônios excitantes. Ser bonito, ter dinheiro e ter alguém para formar o par perfeito não é tudo que alguém precisa para ser feliz? O episódio do dia fez Estéfani pensar que não.

A garota entendeu que, de alguma maneira, já consumia aqueles produtos, mas, não os tinha internamente. Beleza fulgurante, padrão de vida de acordo o figurinho vigente e namorado figurante. Com essa caracterização das relações, até as artes plásticas mandava um alô para a moça.

O namoro artificial acabou. Mas, Estéfani não abdicou dos costumes consumistas, pois, assim, como ela iria comprar o novo cd do Paramore? Ah, ela também manteve os cuidados com a aparência estética. Nem precisa ser muito inteligente para deduzir isso. Tente ir com um visual punk para ver se consegue, facilmente, emprego. Numa balada, em qual tipo de pessoa você quer chegar: na feia ou na gostosa?

Alguns meses se passaram, mesmo sendo a patty, um pouco de realidade nunca faz mal. Ela transcendeu os valores de mundo adquiridos. De tão iluminados os pensamentos dela, Estéfani viajou que era a nova Buda dos novos tempos. Previu os trocadilhos tão corriqueiros da língua portuguesa e, ideologicamente, articulados com as paixões nacionais. Futebol ela gosta quando é copa do mundo, porque no Brasil, tirando o Kaká, o resto é muito feio. Carnaval, se for por causa das mulheres peladas, ela tá fora, a praia dela é outra, e o Sapucaí pouco se importa. Cerveja não, porque engorda.

Afinal, alguém deve estar se perguntando: qual foi o aprendizado da montanha de Estéfani? O amor é mais fácil para quem é menos. No patamar que ela chegou, eu digo que é fogo chegar a pensar assim, apesar das chamas gerarem luz. Correspondência plena ocorre entre semelhantes para não ter desigualdades. O diferente costuma gerar indiferença.

Quem chegou até esse ponto da leitura, nada de exclamações do tipo “Caramba, não se fazem mais morais conservadoras como antigamente”. Velhos tempos eram aqueles…

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