segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Entre pérola e diamante


- Eu tenho que guardar isso para mim...           
            Foi assim que Fabiane, ao ouvir aquelas palavras sussurradas às 11 e meia da manhã, concluiu para ela mesma que fosse o melhor. O peso do impensado, com medidas precisas, mas insensatas, fixaram em sua caixinha de memórias por três, talvez quatro anos.
            Entre Sóis e Luas, a moça continuou sua busca árdua de ser o que almejava. Uma tarefa de ourives. O caráter era lapidado com a singularidade e sofisticação mais cara a si para sentir, de fato, multifacetada. Os modelos de perfeição convencionais eram descartados para que a verdade interior brilhasse com beleza e sensibilidade.
             Apesar das delícias do caminho, Fabiane já não aguentava mais suportar o grão de lembrança guardado transformando-se continuamente em pérola. A escuridão e a luz brincavam de gangorra em seu coração. Os pensamentos descontrolados estavam levando-a uma experiência metafísica insuportável.
O momento para a devolução daquele som dourado se fazia emergente. Procurou a cura dialógica em um personagem neutro. Marcou pessoalmente a consulta com o psicólogo. Ao sair, foi surpreendida pelo próprio destino. Confrontada a devolver sem mais rodeios aquelas palavras matinais de Herculano.
            Herculano observava, atônito, sua antiga amada. Ela estava mais magra, sem um pingo de vaidade, com o rosto cru, encoberta por uma aura nebulosa. Enfim, quase irreconhecível.
            Abraçaram-se brevemente. Fabiane queria tanto vê-lo, e, agora, ele à sua frente, não conseguia encará-lo nos olhos. O que fez foi olhar para baixo, com uma timidez beirando o descaso. Conversaram trivialidades e ficou por isso mesmo.
            Quatro palavras engasgadas na garganta de Fabiane. Eu te amo muito. Herculano já não conseguia perceber mais a simples face que amara um dia. 

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