sexta-feira, 13 de junho de 2014

Quebrando a cara


Corpo magricela. Altura mediana. Ele não era bonito. Mas também não era feio. Nada de exótico. Sem singularidade nenhuma. Para os padrões de um homem comum, ele chegava a ser demasiadamente normalzinho. Até mesmo a cor meio melada de seus olhos. Enfim, mais um em meio a tantos outros. Porém, sabe se lá, talvez, como se fosse algum tipo de remédio para curar a beleza mais insossa que chuchu, tinha como bom antídoto a lábia.
Como um bom artista, Reinaldo sabia conquistar pelas palavras bem articuladas as cores e o fulgor que lhe faltavam. Extraordinariamente se caracterizava com as mais lindas adjetivações. Deixava elegantemente nas linhas e entrelinhas o que normalmente passaria despercebido por suas performances do dia a dia. Ele exibia seus dotes como se fosse o melhor, o especial, o único. Modéstia não era seu forte. Intimamente sabia que o porte para todos aqueles atributos que enaltecia em si não designavam tão bem a realidade. Na verdade, o que reluzia estava mais para chumbo do que para ouro. Dava pouco a mínima.  
Então, para atrair suas futuras conquistas amorosas tinha que parecer interessante. Senão como elas o notariam? As mulheres não ligariam simplesmente pelo seu jeito nu e cru de ser, ele pensava. Tinha que instigá-las a crer que diante delas se materializava o rapaz que sempre desejaram, sempre sonharam. E para cada uma das moças que ele se interessava, Reinaldo arquitetava uma persona de acordo com as idealizações gerais sondadas das mesmas.
E para Ruth bancou o experiente e resolvido. Ela não estava em suas mãos. E para Reinaldo bancou a difícil e misteriosa. Ele não estava em suas mãos. Dois oponentes que não demonstravam suas fraquezas por medo de perder o que não tinham. A máscara de Reinaldo não caiu no chão. A maquiagem de Ruth não derreteu. E ambos quebraram a cara. Nunca andaram de mãos dadas. 

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