Manhã de 23 de abril. Alguma sala da EMAC – UFG. O que fiz? Basicamente fotografar. Mas cada ‘clique’ por trás da lente de uma máquina objetiva perante o objeto da Fotografia é também agir, interagir com o outro que lhe afeta. Posso dizer que o fotógrafo, sua ação em cena, é também o ato de performar; sua performance dentro do espetáculo do cotidiano é o de fotografar, ou seja, sua arte lhe concede o papel de performer de si mesmo. Então, com esta angulação, elenco 3 atos durante a performance daquele dia que me marcaram: agachar, subir e refletir.
Agachar durante uma cena de performance é divertido e estranho quando a gente se acostuma a ficar parado durante os atos e esperar, como se fôssemos meros espectadores, que algo interessante apareça aos nossos olhos cansados de ver. Mas quando agachei para tirar fotos foi como se um novo mundo se apresentasse a mim: o mundo da igualdade. Isto porque fiquei na mesma altura de alguns performers e me permitiu vê-los de forma mais humana, mais próxima, como se eles realmente estivessem próximos de mim e eles conversassem através de seus gestos coisas que eu deveria guardar na memória dos meus olhos. É como se fosse algum diálogo e não uma apreciação distante de algum artista. O fotógrafo quando se agacha ganha humildade e, com esta humildade, pode ver dimensões singulares e ganhar uma sabedoria de olhar – porque ao abaixar o tom dos olhos, novas nuances aparecem. Mas agachar também é chato porque literalmente as pernas ficam doloridas. Então, ficar o tempo todo agachado, ficar o tempo todo ‘humilde’ perante a arte em frente aos seus olhos também dói, é cansativo. Por isso, o bom fotógrafo sabe a hora de dizer para os seus olhos que um ângulo/objeto a ser fotografado “já deu” e, assim, sai do lugar cômodo que arranjou e procura outro lugar para ver com outros olhos.
Subir literalmente em cima de uma mesa foi assustador e instigante. O susto, acho que já se deve suspeitar, é o medo de cair, e o motivo instigador é o fato de querer mesmo assim continuar lá em cima para ver com precisão o grupo como um todo, sem que, no entanto, alguém me visse lá ou sentisse minha presença. Todos agiam livremente porque não se tinha a noção de alguém observando. É aquela coisa de ver todos em tamanhos menores e, mesmo assim, ver a amplitude de suas ações. Tudo isso faz parte de algo surpreendente e instigante porque, de certa forma, atinge aquele antigo imaginário do que seja Deus: um ser no alto de suas nuvens, em um paraíso cheio de luz, que tudo vê mesmo o oculto. São muitas divagações obscuras, pois, como Shakespeare já enunciava, “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Senti-me uma pequena parte daquele monte de gente porque mesmo olhando eu também estava lá. Um grão no meio de um copo de arroz.
E o terceiro ato que me marcou durante a performance foi o ato de refletir minha imagem, meu reflexo no vidro da porta que mostrava também todos os que atuavam em uma mesma fotografia. É aquela história de que o que a gente vê faz parte do reflexo do que nós somos. Talvez ninguém chegou a perceber estas nuances de histórias que narrei nesta folha mesmo estando no mesmo tempo e local. Porque o que percebi subjetivamente são reflexos de imagens que construí e construo a cada olhar. Dessa forma, a realidade que nós enxergamos como real vai além das ações que vemos dos outros ou de como essas ações nos afetam: é uma questão de como observamos a tudo a isso, que tipo de lente e mecanismos psíquicos colocamos em jogo para alcançar a nossa visão. As imagens que saltam aos meus olhos são simplesmente emanações do meu ser.
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