sábado, 19 de junho de 2010

Inconsciente

Nenhum eletroeletrônico ou móvel para pelo menos descansar o corpo. Um grande espaço em branco. O silêncio por todos os cantos, apesar das dimensões invisíveis do lugar. O aroma inodoro e fresco de um frio glacial. Seria o quase nada se não fosse a presença de Lílian.

Do outro lado, oito camas, pacientes, em um espaço repartido, ruídos irregulares conforme as batidas do coração. Dia e noite, a mesma iluminação, clara e dura no branco gelo. Um espaço comum e universal, sem identidade. Artificial todo o ar, condicionado às temperaturas baixas. Insensibilidade quebrada pela água com sabor de soro que escorria bem suavemente dos olhos de Augustus.

Vinte anos de vivência poderiam ser cortados pelo fenômeno natural em que os seres vivos se apresentam efêmeros. A mulher de sua vida estava por três dias constantes em sono profundo. Quando ela iria despertar daquele estado letárgico? Inconsciente.

Augustus tocava as mãos macias de Lílian. O intuito de passar de uma matéria para outra, como em um circuito elétrico, o carinho intenso que não poderia ser de forma alguma distante. Conversava mentalmente em silêncio. Se juntos alcançaram o paraíso concebido num sistema de lógica incompreensível para os mortais, os pensamentos e sentimentos de amor também teriam que alcançar a amada esposa.

As mãos de Lílian e Augustus se apertavam reciprocamente. A fé conectou-se ao milagre.


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