Estudante do último ano do Ensino Médio. Vestibular. Concorrência. 17 anos. Ansiedade. Muita ansiedade. Pressão. Cobrança. Eficácia. Poderia ter sido estas as causas para aquilo que deveria se configurar somente em um colapso emocional momentâneo.
“Ana Cláudia, você
desconfia como tenha sido sua origem a este mundo?”, irrompia uma
única vez a pergunta de Tereza à sua filha em meio ao barulho e
tempo quente do trânsito em horário de pique, o que fazia aquele
diálogo se perder na vertigem do tempo. Agora sim tal indagação
materna desconcertante fazia inimaginavelmente sentido.
Não se poderia ter uma
cena de histeria neste lugar sob determinadas circunstâncias. A
verdade não sabia como se autoproclamar. Mas você sabe, por acaso,
quem era aquele homem com poucos fios de cabelo que a jovem tinha
acabado de dar um abraço no estacionamento do aeroporto? Bom, ele
era seu pai.
Naquela noite de julho,
época do caos aéreo pelo Brasil, Ana Cláudia descobria, então,
que o pai que tivera antes de abrir os olhos para este hilário
mundo, que viu seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seu
desenvolvimento como ser humano durante a vida não era o que a
fizeram acreditar como na fotografia do porta-retrato da família.
Era aquele desconhecido gentil, na verdade, seu pai biológico.
O que pôde fazer a moça
diante daquela verdade que era melhor nunca ter sido revelada?
¨Não!”, única palavra gritada que conseguiu dizer diante do
reflexo que acreditava como real se perder para que existisse uma
falsa representação de família tradicionalista por excelência.
Para que existisse, enfim, a verdade em verdadeiro ângulo.
Bipolaridade.
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