– Mamãe, sinto que um dos motivos para eu vir ao
mundo é porque sabia que aquele óvulo era seu. E por saber, de dentro do meu
genitor, o quanto ele era escroto, eu, instintivamente, procurei vencer a
corrida para destrui-lo a partir da minha concepção.
Ao falar isso numa tarde ensolarada e
amena de sábado, minha mãe, mesmo sendo aquariana, não aguentou o vanguardismo
da viagem que eu narrava, arregalando os olhos na hora. Um misto de terror e
horror. Ela nunca falou um “a” mal de Carlos Eugênio, para meu azar, só
elogios, que ele era muito inteligente, sociável, articulado, educado, ótimo
astral, sedutor, bonito, sensível, empreendedor, arrojado. Para piorar o
cenário, disse anos atrás da minha revelação ontológica, que ele foi o amor da
vida dela.
O capricorniano me conheceu com 6 meses
de vida e mesmo minha mãe me enfeitando toda para ser a bebê mais digna de
comercial da Pampers, ele não reconheceu a paternidade, nunca a ajudando nem
com o dinheiro das minhas papinhas. Certeza que eu o olhei, já nenê, com tanto
desprezo que, sorrindo angelicalmente, eu lembro de ter mentalizando numa
frequência muito sutil e poderosa:
– Fique com suas raparigas, trouxa!
Torre seu dinheiro com elas como se não houvesse amanhã, porque elas logo irão
desaparecer. Engravide outra novinha, tenha um Júnior que te despreze com muito
mais intensidade ainda que eu. Ele irá te ferrar, dando até PT no seu carro
mais caro, se envolvendo com torcida organizada, parando em delegacias, porque
você não sabe educar, só sabe trepar e engravidar. E depois de você ter gastado
uma fortuna com a faculdade dele de Direito, ele vai se formar para decidir ser
pastor. O que explica porque ele te perdoará e amará a ponto do filho ser pai do
próprio pai. Se a mãe dele é macumbeira como você me dirá no futuro, eu não
sei, porque você, doador de espermas, é tão encruzilhada que para não dividir
os bens com ela, colocará tudo no nome do seu advogado que vai te tombar de vez
para sua pobreza material combinar com sua espiritual.
Para minha sorte, já na barriga da minha
mãe, dando o meu melhor para aprender com ela nas aulas da Faculdade de Letras,
da UFG, o chefe dela, um arquiteto taurino muito foda, quis ser meu papai. Aí,
sim, eu dei valor! E vi que aquilo tudo era proposital: a conexão que eu tenho
com meu pai é surreal. Depois de ser despejado da própria casa pelos filhos do
primeiro casamento; mamãe, eu e meu irmão mais novo ouvíamos, com frequência, ele
afirmar convicto durante as refeições familiares:
– Vocês são minha verdadeira família.
Talvez, Otalves foi meu criador em outra
vida, iniciando-me, quem sabe, nos mistérios da senda cósmica nos tempos e
templos do Antigo Egito. Sou sua única filha de 8, nesta vida, a acompanhar
seus passos místicos, mesmo que ele tenha me confessado que eu já era avançada demais
até para ele do último grau da Ordem, exercendo, na época, a função de tipo um
padre dos rituais, um capelão, como dizem por lá. Um homem de uns 71 anos,
humildemente, dizer isso para a filha de uns 17. A verdade é que quando alguém
desencarna, quando há amor, a alma dela continua com a gente nos nossos
corações.
E bom, eu já fiz um experimento místico
e testei, por acaso, a energia do meu pai também. Ele carregava numa corrente
de ouro um pingente de esmeralda, que parece ser uma pedra boa para quem é do
signo dele, e como ele era um tanto romântico para além do ponderável, comprou
um pingente de esmeralda igualzinho para minha mãe. Tal combinação, um casal
que compartilhe, cada um, do uso de uma esmeralda em comum, significa “amor fiel”. Minha
mãe nunca a vi usando a dela. O meu pai, sim, desde criança até o fim da vida.
Pois bem, numa oração, comecei a sentir
uma vibração estranha na mão que segurava a pedra. O chacra da mão esquerda
ativou e senti uma bolinha de aura verde que se desprendeu do pingente e entrou
em mim até chegar ao coração. Fiquei feliz e comecei a usá-la mais vezes para
aproveitar a energia do meu pai ao meu favor. hehe
Fiel eu nem sempre fui com meus
ex-namorados. De 5, traí 2, e o último preferiria que eu o tivesse traído do
que a vingança que cumpri. Ele ficou bastante, bastante mesmo traumatizado,
prometendo a si mesmo que ficaria uns 7 anos sem namorar até ser capaz de oferecer
responsabilidade afetiva e de realizar a si mesmo para ser por inteiro, e não
pela metade, num relacionamento. Não adiantava ser amado sem, antes, amar a si
próprio. Amar-se para, depois, amar o próximo como a ele mesmo.
Quando ele terminou comigo, ele não
esperava que ele seria a primeira pessoa a saber, bem de manhãzinha, da transa
que tive com um cara que ele chegou a suspeitar do interesse do outro por mim, mesmo
eu, realmente, não notando na época, e contar detalhe por detalhe, aumentando
muita coisa, do lance sexual. Melhor presente de Natal para destruir o ego de
um leonino para compensar o Carnaval dele.
Bêbado demais, levou foi fora de uma esqueleto,
apelido que dei para a guria que ele manteve a amizade esquisita por meses,
após as cinzas, para meter pau no namoro comigo, compartilhar ansiedades com
ela porque achava vergonhoso um universitário demonstrar fraqueza para a
namorada bacharel, e ficar, mentirosamente, a elogiando a tal ponto que a
idiota alimentava um amor platônico por ele, mesmo eu lendo a conversa de cabo
a rabo que ele recusava as investidas dela.
Lógico, ele sempre curtiu mulher mais
cheinha pelo vício em bunda e seios fartos, fora que não a admirava, só tinha
pena dela, mas gostava de ser admirado por ela. Foi para foliar, tentou me
trair, ficou todo fodido. Ou não. hahaha! Acho é pouco. Deletei o número dela
ainda e ele ficou sem força de procurá-la após a carnificina espiritual que ele
buscou para si.
O que eu quero ilustrar com tudo isso?
Que os erros que cometi eu os fiz porque eu quis. Não me arrependo de nada,
absolutamente, nada do que fiz. Não posso colocar a culpa em ninguém, nem no PT,
nem no Carlos Eugênio, pelas escolhas feitas. Hoje, a história é diferente.
Perdoei-me por reagir a dor, em consequência do amor que sentia pelo meu ex, sem estar atraída por outro. Afinal, a repetição leva a repetição.
Se ele não tivesse errado com minha mãe,
eu nem nasceria... Ela não teria vivido o lindo amor de férias de julho de 89 dela.
Ele que sempre quis ter uma filha... Não sei se isso é um elogio ou xingamento,
mas todos dizem que sou a cara dele. Desde muito pequena, antes de aprender a
decorar as datas importantes da História e esquecê-las assim que tirasse 10 na
prova, quando via mulheres pobres e abandonadas grávidas, eu achava a coisa
mais abominável da face da Terra. Pensava o quanto era difícil para um bebê
sobreviver sem maior proteção financeira, afetiva, paternal. Sem saber por 17
anos que quase passei por isso.
Quis destrui-lo e isso me destruía. Um
erro. Sem a existência dele, eu também não existiria. Talvez isso explique,
espiritualmente, porque eu sou a única das dezenas de netos que herdou diabetes
da minha avó paternal. Um fio de cabelo me machucava a partir de sua origem, no
couro. Ela tentou se comunicar, agudamente, comigo aos 17. Falei para meu pai, vivo na época, sobre o fato. Resolvi arrancar o único fio de dor aguda. Eu e
meu pai rimos para depois rimos de novo ao assistir Pica-Pau. Coincidentemente,
uma semana depois minha mãe me informou que a mãe de Carlos Eugênio tinha
falecido. Ela morreu sem me conhecer.
O que amo, me mata. Doces. Amor
abnegado.
Eis o acerto de contas. Um prego na cruz
por todo perdão de cada pecado que volta a ser repetido. Mas não é Jesus o
crucificado, oras, já estamos no Juízo Final! rs Quem eles querem ainda enganar?
A si mesmos? O reino de Deus está dentro de nós, mas diante a culpa, a
frustração, a inveja, o vazio e tantas outras mazelas interiores, a maioria está se
condenando ad eternum por sua própria
consciência e risco...
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Sugestão musical que Carlos lembra da época que nasci:
Nenhum de Nós – O Astronauta
de Mármore >>
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