Algo guardado no meu peito foi roubado. Está um vazio. Estranho. Era
algo tão valioso, lindo e caro o que eu tinha para presenteá-lo. Estava
lá o tempo todo, mas, puft!, agora não está mais aqui. Você me deu
tantas raridades de forma gratuita, só queria ser recíproca. A dívida
acabou, mesmo eu possuindo, agora, toda a riqueza semântica. Eu,
realmente, queria te pagar por tudo o que você me fez. Poesia por
poesia. Mas a atual condição abusiva e exploratória
de pagamento me deu o direito de não sentir mais nada por você. Nada
sinto, nada oferto. Devo muito a você, só que os créditos estão todos
contigo. Eu, mesmo nada lucrando com isso, confesso que ainda gostaria
de ter aquilo guardado no peito. Depositei tantas expectativas. Só que,
no jogo dos pesos, as medidas não são mais as mesmas. Outras cotações,
outros valores. Se não tenho mais aquilo que me foi retirado, todo o
peso dos metais preciosos não ditos saíram da minha boca. Sem mais
nenhum arrependimento, descanso em paz. Comprei a salvação às custas da
minha própria vida. Melhor investimento que poderia ter feito. A
sustentabilidade dessa conta toda é a leveza da alma. Com o espírito
livre, vivo sem economias.
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