- Eu tenho que guardar isso para mim...
Foi assim que Fabiane, ao ouvir
aquelas palavras sussurradas às 11 e meia da manhã, concluiu para ela mesma que
fosse o melhor. O peso do impensado, com medidas precisas, mas insensatas, fixaram
em sua caixinha de memórias por três, talvez quatro anos.
Entre Sóis e Luas, a moça continuou
sua busca árdua de ser o que almejava. Uma tarefa de ourives. O caráter era
lapidado com a singularidade e sofisticação mais cara a si para sentir, de fato,
multifacetada. Os modelos de perfeição convencionais eram descartados para que
a verdade interior brilhasse com beleza e sensibilidade.
Apesar das delícias do caminho, Fabiane já não
aguentava mais suportar o grão de lembrança guardado transformando-se
continuamente em pérola. A escuridão e a luz brincavam de gangorra em seu
coração. Os pensamentos descontrolados estavam levando-a uma experiência
metafísica insuportável.
O momento para a devolução daquele som
dourado se fazia emergente. Procurou a cura dialógica em um personagem neutro.
Marcou pessoalmente a consulta com o psicólogo. Ao sair, foi surpreendida pelo
próprio destino. Confrontada a devolver sem mais rodeios aquelas palavras
matinais de Herculano.
Herculano observava, atônito, sua
antiga amada. Ela estava mais magra, sem um pingo de vaidade, com o rosto cru,
encoberta por uma aura nebulosa. Enfim, quase irreconhecível.
Abraçaram-se brevemente. Fabiane
queria tanto vê-lo, e, agora, ele à sua frente, não conseguia encará-lo nos
olhos. O que fez foi olhar para baixo, com uma timidez beirando o descaso. Conversaram
trivialidades e ficou por isso mesmo.
Quatro palavras engasgadas na
garganta de Fabiane. Eu te amo muito. Herculano já não conseguia perceber mais
a simples face que amara um dia.
A condição psicológica da personagem empresta densidade ao texto. É de se querer que continue.
ResponderExcluirMari, parabéns! Ma te ama!
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